Afinal o que é que falhou?
O António foi contratado para a empresa XPTO como estagiário no Departamento de Marketing. Era o seu primeiro trabalho, não conhecia a realidade das organizações, tudo o que conhecia era a teoria que aprendera na universidade e que estava desejoso de aplicar. Conseguira o estágio devido ao seu excelente desempenho enquanto estudante. E estava carregado de expectativas de crescimento, garra e muita vontade de mostrar o seu valor.
No primeiro dia, o António foi recebido com cerca de 40 novas pessoas que, como ele, sentiam alguma ansiedade perante esta entrada no mundo do trabalho. Foram acolhidos numa sala de formação, em que estavam presentes o Director de Recursos Humanos e o Supervisor de Marketing, que se apresentaram a si e à empresa como uma grande multinacional líder no sector das telecomunicações. Durante 8 horas falaram da sua história, dos seus processos e procedimentos internos e do Departamento de Marketing, no qual os novos colaboradores se iriam integrar.
No final do dia, o António regressou a casa, com as expectativas ainda mais elevadas relativamente a esta grande empresa para a qual tinha tido a sorte de ser contratado.
Nos dias que se seguiram, o António esteve a carregar dados numa folha de cálculo, agregando informação estatística de diversas fontes sobre o sector. Ao longo de várias semanas, foi essencialmente o que fez, para além de algumas outras tarefas de baixo valor acrescentado, como arquivo, fotocópias e classificação de documentação do departamento.
Ao fim de 6 meses, o António terminou o seu estágio em marketing e saiu da empresa. Dos cerca de 40 estagiários que entraram no mesmo dia, ficaram 12.
Familiarizado com a situação? Consegue identificar o que não correu bem nesta história?
Grande parte das empresas falha na gestão de pessoas. Sim, prefiro a designação Gestão de Pessoas, porque é de pessoas que se trata. Uma empresa não pode limitar-se a gerir recursos, talento e capital, mas considerar as pessoas em todas as suas dimensões, nas suas motivações, ambições, expectativas e no que podem contribuir, mesmo sem experiência. Com frequência, ouvimos os empresários dizer que falharam no recrutamento e selecção dos seus colaboradores, na qual investiram muito tempo, dinheiro e energia. Será apenas isso?
Investe-se muito tempo a recrutar, mesmo depois de as pessoas já estarem admitidas. A empresa é normalmente a maior e melhor posicionada no mercado, cria-se uma visão partilhada de algo grandioso. Mas depois investe-se muito pouco a ouvir as pessoas, a passar tempo com elas, a auscultar, a desenvolver e a fazer crescer. Goram-se expectativas mútuas e gera-se desmotivação e frustração. A relação de parceria tinha tudo para dar certo, mas por que falhou? Vale a pena pensar nisso.